Cinemateca faz sua história
A maior instituição dedicada ao cinema da América Latina, completa 70 anos em 2010. A casa guarda e preserva a o maior acervo cinematográfico da sétima arte em terras latinas.
A maior instituição dedicada ao cinema da América Latina, completa 70 anos em 2010. A casa guarda e preserva a o maior acervo cinematográfico da sétima arte em terras latinas.
Por Giovana Torres Pessoa e Beatrice Morbin
Você sabia que existe uma instituição encarregada pela preservação da produção audiovisual brasileira? Sim, existe é a Cinemateca brasileira. Ela é responsável por preservar, em imagens, diversos elementos da cultura, sobretudo a brasileira e completa 70 anos este ano. Apesar da idade avançada, é referência internacional e contém o maior acervo audiovisual da América Latina. “Aqui a gente guarda, preserva e mostra a arte audiovisual”, explica a educadora e guia da instituição, Adriana Conrrado. “além de promover uma série de eventos e manter sempre uma programação diferenciada e com trabalhos educativos”, completa.
Criada em 1940 por jovens amantes do cinema e estudantes de filosofia da Universidade de São Paulo, que tinham o “hobby” de assistir e guardar filmes da época. “Com o tempo eles acumularam tantos rolos que não tinham mais onde guardar”, conta Adriana guia da cinemateca. “Até que foi incorporada ao governo federal como um órgão do então Ministério de Educação e Cultura e encontrou espaço para armazenar seu arquivo no Museu de Arte de São Paulo, em 1949”, explica. Ela nos conta ainda que só em 1957 a cinemateca “foi parar onde está”, o prédio foi construído para abrigar um matadouro, mas com o crescimento populacional da região da Vila Madalena, a população, incomodada com o mau cheiro e os transtornos relacionados à atividade, logo foi retirado do local, que ficou mais de quarenta anos fechado. “Após esse período o prédio foi tombado como patrimônio histórico”, revela. Com isso abriu-se espaço para a cinemateca, que reformou e adaptou a casa para as atividades que realiza.
O Acervo conta com mais de 250 mil rolos de filmes, o que equivale a mais de 35 mil títulos e acredite, o acesso a esses filmes é gratuito e, apesar de não se tratar de uma distribuidora, o acervo pode disponibilizar cópias para outras instituições. Mas ela desempenha uma série de atividades que vão muito além de guardar e disponibilizar essas informações. Além de promover uma série de mostras, festivais, seminários e cursos sobre cinema, a equipe realiza todo um trabalho de recuperação e preservação das obras. O laboratório de Imagem e Som, da instituição, é referência no assunto e está “apto a lidar com filmes deteriorados e com alto grau de danificações com tecnologia de ponta e cuidado extremo”, explica a assessora Mariana Pestana. “Uma obra só é considerada preservada quando restaurada, digitalizada e copiada em em DVD, VHS, matique e beta. Essas duas últimas são formatos usados por profissionais”, completa Adriana. “Todo esse material precisa ser registrado, catalogado e guardado em ambiente apropriado, pois os filmes não ‘gostam’ nem de calor, nem de humidade, pois em condições não apropriadas os danos podem ser irreversíveis”, explica. Todas as informações, sobre os filmes do acervo está facilmente acessível na rede, pelo site www.cinemateca.com.br.
Ao longo destes setenta anos a Cinemateca também foi responsável pelo arquivamento do maior acervo de imagens em movimento da América Latina, com patrocínio de grandes empresas e esforço dos familiares dos artistas ou mesmo amantes do cinema e pesquisadores interessados na preservação desta arte. No acervo constam longas, curtas e cinejornais, além de fotografias tiradas durante as filmagens, cartazes de divulgação, filmes publicitários e registros familiares, nacionais e estrangeiros, produzidos desde 1958. A Cinemateca também possui um vasto acervo de documentos que englobam livros, revistas, roteiros originais, fotografias e cartazes, todos disponíveis a todo e qualquer usuário que queira saber mais sobre a sétima arte.
Quando nossa equipe esteve lá pudemos ver três curtas, com uma proposta bastante alternativa. O primeiro foi A Velha a Fiar, bastante citado, é referencia no cinema nacional e pouco conhecido pelas pessoas comuns. Gravado no Rio de Janeiro, em 1964, com poucos recursos de edição, revela a criatividade do ser humano. “Não é todo dia que vemos filmes tão diferentes”, diz Matheus, aluno do primeiro ano do colégio Vieira. “Além de engraçado nos leva a refletir sobre o cotidiano daquela época e as coisas da vida”, completa. O segundo filme, cartão vermelho, é um curta de Lais Bodanzky – mesma diretora de O Bicho de Sete Cabeças - com uma trama bastante pesada, mostra a descoberta da sexualidade no mundo de Fernanda, uma garota que ainda gosta de jogar futebol com os meninos no momento em que é surpreendida pelos desejos da adolescência. E por último conhecemos a animação caricata de Rafael Terpins, A Guerra do Vinil, que fala sobre a superação do DJ Air em enfrentar seus medos e mostrar todo seu talento para o público. A programação pode ser acompanhada pelo site. Além disso, no saguão, havia a exposição de Roman Polanski, um dos principais cineastas franco-poloneses.
Para a professora do segundo gra, Ana Paula, que levou seus alunos para uma visita à cinemateca, essa é a “oportunidade que os alunos tem de obter uma relação diferente com o cinema, mais artística e representativa que o cinema comercial”, explica. “Tomar conhecimento do próprio cinema brasileiro é fundamental”, argumenta Francisco Raimundo Santos, também professor do ensino médio, “e é uma forma de trabalhar o audiovisual na educação, já que hoje o jovem não tem tanto interesse em leitura, é uma forma de atraí-los.”, afirma. Para ele, a partir do momento em que os alunos tomam conhecimento da própria cultura, poderão enxergar o cinema de outra forma e somente assim poderão “se apropriar de suas raíses” e saberão dar valor. Sobre a cinemateca diz ainda “é muito importante que exista essa estrutura que conserva toda a história, a memória do país, através da arte”, completa.
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