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segunda-feira, 17 de maio de 2010

DOIS - à algum tempo


Crítica Teatral que postei no meu antigo blog à algum tempo, mas o texto, acredito que ficou bem bacana. Na época eu estava no final do primeiro semestre da faculdade, hiper empolgada. Ainda tenho muito dessa empolgação, ainda bem, mas fica um pouco o receio de não ter a maturidade e a vivência que tanto dizem ser necessária para se fazer uma boa crítica. E, desde que notei o tamanho de minha responsabilidade como jornalista e formadora de opinião, bate aquele friozinho na barriga e a vontade de me preparar melhor antes de escrever sobre algo.


Vale a pena ressuscitar este post.


Espetáculo: DOIS

Por: Giovana Torres Pessoa

O espetáculo Dois questiona de forma bastante instigante a dualidade dos seres humanos. Questiona o modo como a vida tem ganhado um ritmo frenético e descontrolado. Isso nos leva, muitas vezes, à alienação, à falta de conhecimento de si mesmo, e da sociedade em que vivemos.

Em ritmo acelerado a personagem descreve sua rotina no trabalho dizendo repetidas vezes: pego papel; carimbo papel; assino papel; entrego papel. Uma descrição tão simplista revela como a fragmentação do trabalho e a repetição apenas mecânica deste fazem com que a própria personagem não se reconheça no que está fazendo, e dessa forma não vê valor.

Desvalorizado profissionalmente, tanto quando se refere ao reconhecimento social quanto financeiro, a personagem mostra sentir-se impotente, pois mesmo trabalhando incessantemente não ganha o suficiente para garantir conforto à família e manter as contas em dia. Além de passar pouco tempo com os entes queridos, e ter seu único momento de lazer ao assistir a novela – que termina sempre com um final feliz.

Como todo ser humano, está em busca da felicidade. Vendo sua vida ser marcada pela desvalorização, pelo vazio, pela ausência, a personagem termina solitário. Mergulhado em suas lembranças conclui, no fim, não ter nascido para ser feliz.

Todos buscamos a felicidade, mas para alcança-la não basta apenas o sucesso pessoal, mas também o das pessoas que nos cercam. Pois a felicidade só existe quando todos somos livres – quando podemos agir a partir de nossas próprias escolhas, de forma consciente e responsável – e chegamos à concórdia. Não há, então, felicidade quando uma pessoa se aproveita da outra, ou uma classe explora a outra.

Acredito que hoje todos nós somos, de certa forma, infelizes. Quando no conforto do nosso carro, com ar condicionado ligado, é só olhar para o lado para ver uma criatura em uma sobrevida. Pessoas jogadas na rua, sem os cuidados mais básicos como higiene e alimentação. Somos infelizes quando temos uma sensação de impotência por não poder resolver a situação como um todo.

Fica subentendido a pergunta: Hoje, com todos os avanços científicos e tecnológicos, será que somos civilizados?

Será que “a luta de todos contra todos”, sobre a qual Hobbes dizia ser a condição em que o homem vivia no Estado de Natureza, terminou ou continua hoje na “selva de pedra”?

Estamos vivendo o que Lipowetski chamou de “A era do vazio”, na qual o mundo é marcado pelo individualismo, egoísmo, egocentrismo, apatia política e a preocupação apenas com o prazer imediato.

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